segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010



Vem a noite escondida por entre estrelas
Que se prendem a um olhar demais distante
E dá conta que já não mais sabe vê-las
Sem a revolta com a força de um instante
Será do frio intenso as mãos geladas
Ou da falta do calor de quem eu quero
Que me faz mantê-las sempre, assim, fechadas
Denunciando um tão calado desespero
A luz já se perde no horizonte
E cresce a saudade que se tem
Os dias já só desmaiam defronte
Da lembrança do sabor de alguém…

sexta-feira, 5 de novembro de 2010


Eu sei que custa navegar em território desconhecido
Presta atenção ao que te digo, aqui basta um bom ouvido
Pra ti faz algum sentido? A minha mente é complexa
Até eu fico perplexa quando é tema de conversa
Muitas vezes sinto-me ser carta fora do baralho
Mas a culpa será minha ou do sistema do c***lho?
Ouço o soalho a estalar cada vez que entro em cena
Fujo até perder o ar e arranjo outro problema
Tenho a mania das limpezas: mantenho a mente arrumada
Perco tempo a seleccionar e acredita, fico cansada
Não sei se é vício, obcessão, mas passo a vida a separar
Bons momentos dos que não são, e dos que não quero lembrar
No lugar da calmaria tenho um caixote vazio
É a parte mais sombria deste terreno baldio
Acaricio a desgraça, desvio-me do rumo certo
Já não sei o que se passa pr`além do céu encoberto
O meu lugar ficou deserto desde o último suspiro
Mas tudo fica em aberto, afinal, ainda respiro.

terça-feira, 2 de novembro de 2010




"Somos o sítio que nos faz falta."

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

De Mestre!

Leve como pena, a luz apagada, a incrível doçura do teu corpo. Frágil minúsculo na ponta dos dedos da minha mão. Apanhar-te toda , amachucada toda na palma da minha mão. Friso subtil dos meus nervos, ah, o veludo do teu calor. Carne virgem, a seda da tua pele, os teus seios ocultos como flores de estufa. Tanto como te sonhei e imaginei no meu querer de crise e estava agora ali total, tinha medo de te tocar, destruir. Tão melindrosa evanescente. Então devagar. Queria ter-te toda e parecia-me que alguma coisa de ti me fugia e não entrava no domínio da minha posse, da minha absorção. As minhas mãos pelo teu corpo franzino, na face, nos seios, nas pernas de criança. Estavas em silêncio, respiravas alterada no meu ombro, ave trémula. Uma serrilha fina, subtil ácido na fímbria dos meus nervos, não tinhas uma palavra, respiravas fechada em ti. Fechada, secreta, ajustada cerradamente, pequenina dócil - desvendar-te. Tenho dores em todo o corpo, nas articulações. Tremo todo eu no mistério do teu corpo guardado desde a eternidade para mim. Tremo eu todo na impossível inverosímil presença da totalidade cálida de ti. Febre que grita em cada átomo de mim, grito na profundidade das vísceras ao excesso do meu delírio, tu quieta à minha profanação. Corpo suave na mistura intensa da nossa mútua fecundidade, plasma ígneo de nós e tu subtil sem a força que aguente a minha abundância poderosa. Leve apenas, ave ferida, submisso fino um queixume, toda a tua pessoa furtiva, todo o fugitivo de ti, toda tua pessoa arisca e graciosa fechada agora em mim, no meu excesso a transbordar. E aí te perdes longamente, aí te perco, até que o mundo renasceu e tu no centro e ao pé de mim. Rapidamente então ergueste-te, eu ouvia-te ali ao pé na purificação de ti, renascida, purificada e imediatamente adormeceste. E ergui-me eu também, vim encontrar-te na distância aérea dos anjos e das crianças. Só eu não dormia, pregado na noite como uma estrela. E de mim a ti uma bênção que eu não tinha mas sentia num impulso a um sorriso, a uma pacificação que se expandia de mim e ia até aos limites da vida e te inundava de uma imponderável ternura. Assim estive longo tempo, mas eu precisava tanto de te tocar. Recuperar a tua realidade inacreditável, a tua presença no centro do universo. A mão suave na fronte, o lume de um meu dedo na fímbria do teu corpo. A respiração subtil da minha boca na tua face. O halo fugidio da minha presença na tua - e tu rodaste sobre ti, um apagado ciciar da tua boca. Pregado na noite como uma vigília, irradiada de uma luz viva e trémula - dorme. Que é que eu amo em ti? Não é o teu corpo, não é o teu espírito, mas a transfiguração de um pelo outro, a transcendência da tua carne frágil, a abordagem de quem tu és no mais profundo de ti, na posse compacta de toda tu, no espasmo de um punho cerrado - dorme. Não posso dormir, não quero. Como perder esta hora máxima de ser, de tocar toda a tua realidade secreta, drasticamente separada, segregada da minha ânsia em agonia? Porque tu eras para mim o puro irreal e imaginário, o subtil incorpóreo, a pura iluminação sem consistência, a aparência do não-ser, a terrível beleza intocável, a graça aérea imaterial. E agora estavas ao pé de mim, e eu estendo a mão devagar para condensar em realidade a tua imaterialização. Como dormir e perder-te e acordar depois - tu não estares aqui e ser tudo fantástico de impossível? Estendo a minha mão, és tu real na febre da minha mão. Então rolaste de novo sobre ti e eu tive medo. Medo do meu excesso, na aflição da minha angústia. Tremente, perdido(...)




Vergílio Ferreira - "Para sempre"

sábado, 25 de setembro de 2010

Nunca pensei chegar onde cheguei
As minhas lutas diárias são tantas, que já nem sei
Porque é que ainda aqui estou, porque ainda respiro
Sinto o que de mim restou se repetir contra o tiro
Adormeço a pedir que seja o fim, que tudo acabe
Mas amanhece e acordo contra minha vontade
A cada dia que passa, o desafio é maior
Tem asas feitas de desgraça o meu anjo protector
O corpo de tão dorido parece querer quebrar
Deixo-o cair sem sentido sempre no mesmo lugar
Custa-me tanto passar para além da porta da rua
As faces do meu mal-estar são mais que as faces da lua
E não recua, não tenho paz, tropeço todos os dias
Numa ilusão que se desfaz e que me traz avarias
Quase irreconhecível, fito no espelho o meu reflexo
Como um som analfabeto de palavras sem qualquer nexo
Tu ficarias perplexo se visses o interior
Deste eu que já não conheço, feito de um pó ditador
O que é feito da alegria no sorriso sincero?
Pr`onde fugiu a magia do mundo que já não quero?
Desespero na solidão, afasto quem quer ficar
Basta um aperto de mão e sinto a falta do ar
Todos ficam a lamentar o que foi feito do ser de outrora
E pra não me verem chorar, afasto-me e vou embora.

terça-feira, 21 de setembro de 2010


(8) Don't waste your tears on what has come
Or what must be
Use your efforts toward a cause
And what you'll see
Things are better
When you're stronger and happy... (8)